Friday, June 01, 2007

Eco

(Retirado de http://educaterra.terra.com.br/voltaire/artigos/fogueiras2.htm )

Invadindo bibliotecas

Foram as próprias organizações estudantis nazistas, especialmente a NS-Studenten, que, em dez de maio de 1933, tomaram a iniciativa de fazer a Säuberung, a depuração da cultura. Por toda a Alemanha, auxiliadas por tropas de choque da SA (Sturmabteilung) e das polícias locais, hordas de jovens fanáticos tomaram de assalto as bibliotecas públicas, acadêmicas, e até privadas. Aos gritos e aos empurrões, cataram nas estantes tudo aquilo que aos seus olhos lhes parecia undeutsches, "não-alemão". Recolhidos os volumes como se os livros fossem criminosos, chutados e pisoteados, eram jogados nos caminhões para serem transportados para a incineração. Em Berlim, por ser na capital, decidiram-se por uma cerimônia pública de maior impacto, a Bücherverbrennung, a grande queima de livros

O local escolhido para erguer a fogueira foi simbólico: a Operaplatz, a Praça da Ópera, no coração cultural da grande cidade. Os caminhões que chegavam, um a um eram descarregados, passando os exemplares das mãos dos de uniforme para a dos rapazes com as braçadeiras com a suástica que, de imediato, os lançavam nas labaredas da enorme pira que se espalhava no centro da avenida. Além de Berlim, essa cerimônia macabra realizou-se ainda em mais outras 40 cidades da Alemanha. As capas e páginas consumidas pelas chamas alimentavam com o seu fulgor aquela noite fria e triste.

O Triunfo da Violência Organizada

Pode-se dizer que os nazistas, ao promoverem aquela vasta destruição pública de livros, realizaram naquele momento o primeiro auto-de-fé ideológico do século XX. O O restante das nações entendeu-o como uma espécie de macabra advertência do que estava ainda por vir nos anos seguintes.

Um Auto-de-fé Ideológico

O clima entre os piromaníacos era de exaltação, de sanha patriótica. Havia uma espécie de sadismo nos olhares daqueles jovens estudantes e milicianos que se compraziam em ver desaparecer parte considerável da tradição cultural alemã: os tomos de Freud, de Einstein, de Marx, dos irmãos Mann, Heinrich e Thomas, de Alfred Döblin, Erich Maria Remarque, de Bertold Brecht, e tantos mais (*). Justo na terra de Guttemberg, para espanto de todo o mundo civilizado, naquela noite terrível, 25.000 livros arderam no fogo em todo o país, enquanto mais de três mil títulos e autores, germanos e estrangeiros, passaram a ser terminantemente proibidos em todo o território alemão. E, quase que obedecendo ao dito de Heine - um dos que, por ser judeu, também teve as obras devoradas pelas chamas -, não tardou muito para que o III Reich se entregasse a incinerar homens.

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